Uma explicação simples de como a física se aplica na motocicleta. Vale a pena ler.
Motocicleta é um veículo que tira toda
a vantagem das leis da física.
Um motociclista passeia tranquilamente
quando se vê obrigado a desviar de um buraco. Ao lado direito há um carro
estacionado. Mesmo assim ele vira o guidão para o lado direito e consegue
desviar para a ... ESQUERDA!!!! O movimento é muito rápido, praticamente
instantâneo e quase inconsciente. Se fosse filmado em câmara superlenta
poderíamos ver um fenômeno interessante: o contraesterço,
manobra que nada mais é que a terceira lei de Newton aplicada à
pilotagem. A toda ação corresponde uma reação de igual intensidade e em
sentidos contrário.
Graças a essa lei da física, se o
motociclista quiser desviar a moto da forma mais rápida e precisa, é obrigado a
virar o guidão para o lado contrário ao que pretende ir. É pura física
aplicada.
Tudo começa pela característica
constitutiva da motocicleta ( e qualquer outro veículo de duas rodas
alinhadas). Os leigos costumam tripudiar ao alegar que motos " são feitas
para cair, porque estão apoiadas em dois pontos". A verdade, no entanto, é
que isso revela um profundo desconhecimento da física. Qualquer criança em
torno de 6 anos sabe que uma moto parada só fica em pé se estiver apoiada nos
cavaletes central e lateral.
A motocicleta só existe como veículo
quando está em movimento. Pouca gente de dá conta que a palavra
"moto" significa movimento em latim. Para que se torne algo
"guiável" é preciso que esteja em movimento.
Ao se deslocar, as rodas alinhadas
longitudinalmente produzem as forças necessárias para gerar e manter o
equilíbrio. É o chamado efeito giroscópico, uma força produzida por qualquer
corpo circular em movimento. Essa força será maior quanto maior for a
velocidade, o perímetro ou o peso do corpo circular. Em outras palavras quem
mantem a moto em equilíbrio não é o motociclista, mas apura física.
Quando um motociclista provoca uma ação
para virara a roda dianteira, tem como reflexo direto o desalinhamento em
relação à roda traseira e o movimento natural é um esterço no sentido
contrário. Por isso essa técnica se chama contraesterço. Esse movimento é muito
sutil, quem pilota bicicleta ou moto faz isso sem perceber.
Mesmo nas pesadas motos custom, ou cruisers,
a física pode ajudar, ou complicar, a pilotagem. Muita gente considera a
motocicleta um carro de duas rodas, e esse é um grande equívoco que provoca
muita confusão. O sistema de direção da motocicleta, o guidão, está ligado
diretamente à suspensão dianteira. É como se o piloto tivesse de virar a roda
dianteira pegando diretamente na suspensão, que por consequência, está presa a
roda dianteira.
Nos carros, mesmo sem o auxílio da
direção hidráulica, a direção é ligada a uma caixa dotada de pinhão e
cremalheira (rosca sem-fim) que reduz muito a força aplicada para virara as
rodas. Imagine se o motorista tivesse de pegar diretamente na roda do carro
para mudara de direção. Pois na motocicleta é exatamente o que acontece: não
existe caixa de direção. Em compensação amoto é mais leve e, além disso,
tem apenas uma roda na frente.
O guidão nada mais é que uma alavanca.
Lembra-se do Arquimedes? ("Deem-me uma alavanca e um ponto de apoio e
moverei o mundo!"). O que Arquimedes disse, dois séculos antes de Cristo,
é o princípio que permite pilotar uma motocicleta sem exigir uma força de
Hércules. Quanto maior a alavanca menor a força necessária para deslocar a
massa. Se a alavanca é o guidão, quanto menor ele for maior será a força
necessária para fazer a moto mudar de trajetória. O que não ficou muito claro,
na frase de Arquimedes, é que nem sempre a alavanca deve ser grande para
reduzir a força aplicada. Ela pode ser pequena, desde que seja pesada. Se
concentrarmos mais peso na extremidade da alavanca, a força necessária para
deslocar a massa também será menor.
Fonte: Revista Scientific American,
Geraldo Tite Simões
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